Escassez de crédito ameaça emergentes
A aplicação da receita dos estados pode ganhar ares públicos em breve.
Flávia Foreque
A aplicação da receita dos estados pode ganhar ares públicos em breve. Desde o  ano passado, 16 governadores manifestaram interesse em adotar um sistema,  elaborado pelo Senado, para divulgar na internet a aplicação dos recursos  estaduais. Hoje, a grande maioria não publica a execução de seus orçamentos. A  vantagem do sistema Siga Brasil, que permite o acompanhamento dos desembolsos de  recursos da União, é reunir, em um único endereço, dados disponíveis em diversas  bases de informação, como o Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira  do Governo Federal) e o Sigplan (Sistema de Informações Gerenciais e de  Planejamento). 
“A informação que você precisa está em diversos sistemas  que não foram feitos para se comunicar entre si. É preciso aprender a se  comunicar com cada um deles”, diz Fábio Gondim, diretor da Consultoria de  Orçamento do Senado. O custo dos estados para implantação da ferramenta está  previsto em R$72 mil. A proposta de parceria foi feita na gestão anterior da  Casa, mas ainda não foi firmada. “A União está anos-luz à frente, afirma o  ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, ao comparar a  transparência dos orçamentos do governo federal e dos estados. A publicação dos  dados contribuiu para a boa colocação do Brasil em pesquisa realizada em 85  países para medir a transparência dos gastos públicos. 
O Brasil ficou em  8º lugar em estudo produzido pela International Budget Partnership (IPB),  entidade sediada em Washington. Foi a melhor colocação entre os países da  América Latina. Para garantir maior visibilidade da receita estadual, bem como  sua aplicação, a CGU incentivou os governos a adotarem um modelo semelhante ao  Portal da Transparência, que monitora a aplicação dos recursos da União. Dez  estados aderiram à ferramenta, mas os portais não estão reunidos em um único  endereço. A CGU criou ainda um banco de informações para a publicação do nome de  empresas que sofreram sanções pelos estados. Assim, é possível monitorar a lista  de empresas inidôneas e suspeitas em diferentes estados do país. Lançado no fim  do ano passado, o Cadastro de Empresas Declaradas Inidôneas (CEIS) conta com a  adesão de Santa Catarina, Minas Gerais e Bahia. 
O ministro Jorge Hage  ressalta a necessidade da cobrança da sociedade para estimular a vontade  política para publicação dos dados. “A transparência é o primeiro requisito para  que exista de fato e na prática o tão decantado controle social. Se você não dá  visibilidade às informações, isso é um discurso vazio, romântico.” Para o  deputado Índio da Costa (DEM - RJ), integrante da Frente Anticorrupção lançada  nesta semana, a transparência dos dados permite ao cidadão acompanhar se as  promessas feitas em período eleitoral estão sendo cumpridas. O democrata afirma  que, sem a divulgação dos dados, a aplicação da receita dos estados permanece  uma “caixa-preta”. 
A avaliação do diretor-executivo da ONG Transparência  Brasil, Cláudio Abramo, é semelhante. “Não existe na grande maioria dos estados  nada parecido com o que você encontra para fiscalizar os gastos federais. Tem  lugar no Brasil em que o prefeito sequer informa à Câmara de Vereadores o  orçamento da cidade”, diz. E a demanda pela publicação das informações é cada  vez maior. O número de visitas ao site Siga Brasil, por exemplo, saltou de 8  milhões em 2007 para 20 milhões no ano passado. “Há um movimento mundial por  cobrança de transparência nos setores público e privado”, declara o ministro  Jorge Hage.
 
                